Óh Meu Baú de Memórias
Saudades daquele menino negro de 5 anos, gordinho e engraçado. Rindo e piscando o olho a todas as mulheres que passavam. Saudades daqueles ovos “Kinder” que a minha querida mãe me dava, aqueles passeios no parque. Aquele Mundo que eu via e imaginava como se cada continente fosse na porta ao lado, cada praia e cultura fosse no quarteirão a seguir à minha casa. Aquele meu sorriso traquina atrás das saias da minha mãe e o meu olhar e sentimento de olhar para a rua e contar os carros azuis e vermelhos que passavam.
Bons tempos de me perder em construções avançadas de “Legos”, e viajar entre Heróis e Vilões. Tempos em que nem eu fazia ideia o que era um relógio, mas eram tempos em que gostava de ficar a olhar para baixo, do meu 11º andar, e ver a movimentação das pessoas e pensar o que é que elas estavam a pensar.
Nostalgias de um menino que imaginava a Terra verde e azul segurada pelas mãos de Deus e em que tudo girava nossa volta. Adormecer em todos os cantos em que parava: café, carro, escadas da rua…
Falar para mim e a mim próprio responder…
Aqueles finais de tarde à espera do meu Pai vir das obras cheio de tinta branca e bege ainda fresca e sujar-me as orelhas com as suas mordidelas e beijos…
Perdido em Livros com da Bíblia e Calvin and Hobbes quando ainda nem sequer sabia Ler mas aqueles Livros me aqueciam a minha inocente alma. Ir ao Bairro mais próximo pedir sempre os meus seis papessecos quentes e chorar sempre para a padeira para me dar mais um bem quente e com queijo para ir comer pelo caminho. Passar sempre pelos “cotas” da tasca fumando o belo do seu cigarro enquanto os céus discutiam as cores do final do dia e eu harmonizava isto tudo com o meu assobio limpo e bem afinado
Irritar a minha mãe com os paus da comida chinesa, com as minhas batucadas ainda um pouco fora do tempo mas já com solos, principio e fim. Gozar os meus dias com os outros meninos da rua, chamarem-me “vira-lata” e eu dizer “o cão ladra e a caravana passa!”.Chamavam-me o Menino Assobios….
Acordar às sete da manhã e viajar na minha varanda com um sol laranja incandescente puxado pela noite que passara.
Conseguir ir para a escola sozinho e cumprimentando todas as pessoas com sorrisos e “olás”…
Ir ao Supermercado pedir uma encomenda para a minha mãe e pedir sempre uma fatia de queijo do dia para ver se era melhor que a do dia anterior. Aqueles passinhos do Iúri pequenos e perdidos numas sapatilhas que o meu primo me dera. Aquelas minhas roupas largas que os meus amigos já não usavam e que eu amava pelo simples facto de serem deles. Os meus banhos sempre demorados com o meu pai e sempre à espera que me crescesse os pelos da barba para me sentir um homenzinho.
Os desabafos da minha mãe parra comigo enquanto me dava o sono e a baba me escorriam pelo canto da boca do cansaço do meu dia “agitado”…
As brincadeiras com os amigos da escola do “toca e foge”.
As minhas perguntas a Deus:
O meu cabelo rebelde mas sempre penteado à força nos domingos de missa.Será que Tu és branco ou preto como eu?
As “batucadas” na barriga do meu avô Pacheco que Deus o tem em descanso, as brincadeiras com a avó Lucília atrás dos patos e a sabedoria do meu tio Tozé sobre a pintura e arte.
Ver o Mundo como se o Mal não existisse, através de uma chama de poucos anos de Vida e que sonhava ser um sonhador. Raízes duras no meu corpo e alma que me tornaram na pessoa que sou hoje e me fizeram neste dia de chá de Mel e Camomila, com 0º negativos, muita neve e uma música, perder-me em memórias de um pequeno trovador, cantando e balançando a sua cabecinha ainda mal formada mas já cheia de ideias e planos para o futuro. Planos de carreira, não de um bom trabalhador ou pai, mas sim uma pessoa que ajudasse e vive-se para ajudar os amigos, família e todos aqueles que aparecessem na minha vida.
As palavras da minha mãe, pai…
Os gestos da Natureza para comigo…
As coisas que via e não conseguia explicar…
As minhas memorias de uma cidade amarela e azul cyan…com arquitectura simples e que me empurrava para passear nela.
Faziam me acordar aos sábados de manha para ir à praça comprar amendoins e pistácios. Comprava um pão de dois dias, um pão já duro para dar aos patos que passeavam no lago do parque.
As tardes perdidas no café da D. Fernanda a ajudá-la a arrumar o café e a limpar a loiça.
As minhas terças e quintas ao final de tarde na piscina com o professor Vasconcelos a dizer:
Tantos risos inconscientes de um rapazinho que jurava a pés juntos que todo o Mundo era bom…De um Mundo que nunca na vida iria conspirar contra alguém…Hey Iuuu….vamos nadar oh Tubarão!
Os meus desenhos em folhas de papel ajudados pela minha mãe e adormecer no colo do meu pai ao som do seu ressonar.
Os beijos na boca do meu cão “Max” e os meus desabafos com ele. Eu sabia que ele não me respondia, mas ao menos ouvia….
As minhas tentativas de fazer o pino ou a roda…falhei sempre mas a energia era tanta na minha alma que tinha que a depositar em alguma coisa. A minha viajem ao Algarve quando calhou um prémio de 100 contos à minha mãe no totoloto.
As minhas primeiras passadas na música com os ritmos básicos e tremidos com as mãos.Que fortuna…
A minha infância vista de um rapaz agora crescido mas com sorrisos dos meus belos e velhos quadros arrumados no meu quarto cheio de pó. Um quarto que anda sempre comigo dentro da cabeça…
As minhas memórias sem ouro e prata mas sentindo que era (e sou), o menino mais rico do mundo, onde na minha lancheira da escola levava uma sandes e uma mensagem de Paz e Amor.Um Baú desorganizado mas nunca esquecido.
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