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domingo, 31 de janeiro de 2010

De volta..

Caros leitores...estou de volta.
Infelizmente as coisas aqui em Londres funcionam de uma maneira muito estranha.
Mas felizmente já está tudo no normal...
Abraços a todos e obrigado pela compreensão

domingo, 17 de janeiro de 2010

Passadas...




(Pequeno clip filmado e editado por mim. Momentos aqui opassados em Londres. O contraste entre o belo e o feio, o movimento e a estatica, a Natureza e a Destruicao Urbana.)
 

(Peço desculpa a todos os meus leitores pela ausência mas quando não à internet não posso fazer nada.  Os textos que escrevi ate aora, seram aora publicados. os textos sao:

Vida vai..Vida vem...

Querido pai

Bau de memorias

Viajens a Chuva...

Equadores cruzados

Passadas..

Espero que leiam e que ostem e comentei todos os textos. A partir de dia 27 ja tenho net outra vez.
Portanto teram muito que ler. Protecção e Prosperidade para todos e obrigado pela compreensão.)


Equadores Cruzados

Cruzo linhas de latitudes e longitude. Formam-me caminhos e áreas de navegação, por onde piso e coloco-os, meus pés como coloco as mãos no meu instrumento. A minha intenção de perfeccionismo é tão grande que nada disto me chega.
Quero Meridianos e Equadores com ecos de vozes do Oriente e Ocidente. Sabores das suas especiarias e cores das suas artes. Quero estar no centro disto ver e absorver. Quero abrir os olhos e desenhar constelações no céu e ao mesmo tempo acender uma fogueira, esconder a Lua e o Sol no meu bolso e deixar as estrelas brilharem à luz do fogo. Tão crescidos nos definidos e tão pequenos somos nós. Vou convidar aquele assobio do Homem à esquina do Equador, convido o frio do mendigo na ilha de Java, convido as Lágrimas do Menino que reza na Etiópia, chamo a flauta do Fugitivo da Índia, grito pelos sopros de didgeridoos do meu colega aborígene da Austrália, chamo os 7 meninos que dançam nas ruas à luz de um candeeiro fundido no Tibete, bato à porta dos capoeiristas do Brasil para que venham juntar-se a nós. Quero o som da Kora do Este Africano, e a voz da grávida do Senegal. Quero os tocadores de búzios das Américas perdidas.
Quero os Aldeões e as ervas dos seus campos das ilhas das Caraíbas para virem fazermos meditar nas suas fumaças. Abram espaço para entrarem os indígenas das Américas do Sul, as Marimbas de Moçambique. Enviei quatro cantigas ao Fogo, Água, Terra e Ar, a pedir as suas forças que nos dêem a sua riqueza e inspiração.
Fui ao céu e peguei nos trovões e algumas estrelas e coloquei-as no bolso. Roubei um enorme sino de uma Igreja, e prometi que no fim iria lá entregar. Trouxe um caldeirão de água quente, madeira e folhas secas. Trouxe chuva num copo e tempestades das regiões tropicais do Mundo. Na minha sacola atada às minhas costas meti lá os Himalaias, Kilimanjaro e os Pirenéus.
Vim ao meu centro e do nada e juntamente com os meus convidados demos as mãos. Fechamos os olhos e rezamos por todos aqueles que outrora não puderam juntar-se a nós. Aqueles que foram perdidos na fraqueza que não tiveram culpa de ser consumidos pela mesma. Aqueles que com balas foram exterminados e com facas decapitados. Aqueles queimados em pelourinhos perante a cidade. Aqueles que negaram mentir e mesmo assim foram virados contra uma parede e por Deus rezaram. Aqueles que pela liberdade perderam os pais e os filhos. Aqueles que nunca viram a Luz do dia. Aqueles que chicoteados, arrebentados, arranhados e escravizados foram e nem uma gota de lágrimas largaram. Aqueles que ate chegarem ao momento da morte bater à porta não tiraram o sorriso da cara e não deixaram a sua alma fugir. Rezamos por aquelas massas de Holocaustos e mortes. Pelas vergonhas…Pelas Sequóias abatidas, pelo Paraíso criado para nós e que reduzimos a seres de auto-destruição.
Neste espaço silenciamos as nossas vozes e deixamos as nossas almas falar como gotas caídas das pétalas das árvores da manhã. Cada respirar nosso era como um tremor de terra provocado pela patada de um elefante. O bater dos nossos corações era um só e ao som da flauta as folhas secas do chão esvoaçavam e rodopiavam ao nosso redor. Pelo efeito de borboleta, os campos de trigo e de milho libertaram as suas sementes. O fogo ateado levantou-se e semeou o calor pelos campos de notas musicais e pelas areias áridas que estavam entre os nossos dedos pés. Veio o ouro, mirra e o incenso. Veio as águas dentro dos jasmins e as cascas de cocos. Veio o Mundo e os seus habitantes. Júpiter espreitou e desceu juntamente com as suas luas e atrás dele veio o resto dos planetas.


Os mares choraram os sons das orcas enfurecidas. Nasceu das terras sopros de milagres que outrora foram enterrados com os curandeiros e os orixás. Veio à terra a genuidade de Deus sobre a forma simples de um bonsai que debruçou-se sobre nós e acariciou as nossas faces secas e velhas com as suas minúsculas folhas de Paz e Plenitude Universal. As vozes em tom de Sol vieram do mais infinito tempo corrido num relógio de areia que parou ao receber esta energia.
Quando os nossos olhos, simultaneamente se abriram, tudo isto se escondeu como se tivéssemos tocado numa simples e resplandecente anémona-do-mar. Dividimos o pão que nos foi oferecido ainda nem sei por quem, e duas dentadas apenas foram dadas por cada pessoa. Uma pela fome e outra pela Natureza. Ficamos com a paisagem a preto e branco e apenas nós éramos a cores juntamente com a nossa fogueira. Os instrumentos pararam e apenas o vento soprava tão de leve que nem mexia os nossos longos cabelos velhos e embrulhados. Parecíamos pessoas novas, pessoas acabadas de nascer.
Que Fogo, que Utopia foi viajada e criada
Sobre as Leis verdadeiras e Universais de Deus que
São julgadas por seres como nós. Seres que lançaram Daniel sobre o covil dos Leões mas ele não foi comido, pois a sua alma era Verdadeira e Pura e pelos Leões foi acariciado e Protegido. Que Fogo ardeu sobre as nossas almas?
A Fé arde nos Homens Eternamente Gloriosos.
Arcas e Conquistas de ouro querem os Colonizadores e Exploradores.
Ar e Prosperidade querem os Povos que aqui se juntaram.
Os Povos que comigo trovaram líricas de Felicidade enquanto ao Sol do meio-dia o ferro era malhado.

Vida vai...Vida vem...

Vidas vão, vidas vêem.
A lei mais Universal da vida e que ninguém pode fugir a ela. A Lei que não qualquer Ciência, Metafísica ou Filosofia que explique. A Lei que desde o Rico ao pobre, branco ao negro, o honesto e o ganancioso…Todos vamos de ter de obedecer a essa mesma Lei.
Somos tão desequilibrados na nossa vida que se pararmos um pouco para pensar, é rara a vez que damos graças por estarmos vivos e por termos olhos, boca, ouvidos, braços e sentimentos. Quando alguma coisa acontece ou alguém morre ficamos logo com um fim do mundo na nossa Vida, esquecendo que é a Lei Natural da Vida. Mesmo que a sua vida tenha sido tirada por outra pessoa…
É a Lei…
A semente foi plantada na Terra com uma missão. Por vezes nós curvamos a Vida numa esquina e quando olhamos para trás nem sabemos qual a nossa missão, mas o destino foi fazer essa mesma Vida e missão.
Quando pisamos a terra e a areia, tocamos na água do mar e cheiramos o ar puro que emerge do Universo, nunca pensamos que estas coisas possam acontecer, mas a realidade é que a terra que estamos a pisar pode ter sido cenário de guerra ou de alguém que está ali fisicamente transformado em terra. Pode ser macabro eu sei, mas só estou a tentar mostrar o lado positivo e o lado que mais lógica tem.
Da Terra vimos e da Terra nos vamos transformar…
Afinal nós somos Natureza, e com ela interagimos, por isso é que quando estamos num ambiente de Natureza Mística nos sentimos em Paz e Plenitude. Pois é Dela que vimos e é a Ela que vamos pertencer.
Suas cores e seus cheiros, seus frutos, seus animais e sons. O Próprio fogo devidamente controlado no meio da Natureza dá-nos uma Luz tão forte que só dá vontade de adormecer sobre pétalas de Girassol, soprar tornados no meio da poeira, tomar banhos de lama e transformarmo-nos em ar e ouvir ao pormenor todos os sons que Ela nos canta. Fazer parte da Natureza é algo que eu aprecio bastante. É o equilíbrio máximo, é a Vida no caminho certo.
Como a Lei que eu já falei em cima, a Natureza nasce, desenvolve-se, dá os seus frutos e em terra se transforma dando assim um novo espaço a seres vivos, alimento para plantas, novos sons e novas cores.
Vida que é bombeada em cada veia e artéria nossa. Vida mais rica que qualquer milímetro de Urânio ou Ouro. Vida com o som de dois beats do coração. Vida que nos dá a possibilidade de ir debaixo da água e aguentar muito tempo. Vida que nos permite quebrar metas a correr a alta velocidade. Vida que nos injecta adrenalina e nos permite fazer os supostos impossíveis. Vida que nos permite dançar ao som de sons igualmente compostos por nós. Vida que nos permite sentir quente e frio. Vida que permite que nós possamos beber chás de plantas cuidadosamente colhidas. Vida de Texturas e Linhas cruzadas como as cordas de uma “Kora”. Uma Vida que nos permite rir e dar frutos parecidos connosco.


Vida matematicamente impossível mas divinamente oferecida
(Um texto escrito em memória da maravilhosa mulher, Paulina Polonga. Morreu hoje (17-01-2010) ás 4 da manhã na África do Sul. Levou sempre um vida trabalhadora. Uma Vida de campo onde comia o que cultivava. Um sangue que também a mim me pertence. A Lei foi colocada e sua hora chegou. Escrevo isto de sorriso na cara e uma lágrima a bater à porta do olho direito.)
Descansa em Páz Avó Polonga

Querido pai...

Aquele olhar era-me familiar. Um olhar seco mas com muito para me dizer. Lágrimas dele nunca vira saírem. Um olhar que diz sempre
Estou velho e cansado…
Custa-me tanto a ouvir aquilo sair duns lábios negros e robustos encaixados numa cara de história e rugosa. Uma cara com cicatrizes da Vida e de trilhos com bons e maus momentos. Solto sempre uma risada para não chorar. Cada vez que a cara dele se desvia não consigo deixar de olhar para ele e tentar transformar-me num pequeno animal que caiba no seu ouvido de orelhas de pobre para ouvir o que ele está pensando e ecoando naquela cabeça de cabelo curto e bem pequena. È raro velo rir à gargalhada mas quando o faz, é algo indescritível. Para além de electrizar tudo o que está à sua volta consegue fazer-nos rir e nunca mais parar.

Homem de poucas palavras e de poucas confianças. Homem de mãos rasgadas pelo maravilhosamente infinito Tempo. Braços marcados pelos estilhaços das granadas rebentarem ao seu lado na guerra. Cabeça rasgada pelo serrote que o seu pai lhe dera quando era mais novo. Um sorriso de marfim e bem branco a contrastar com o seu tom de pele. Mas mais que isso tudo os seus passos na Vida fazem-me calar o meu despertador do meu relógio só para o apreciar.
Deixa-me estupefacto o seu focar de olhos em algo que a muitos passa despercebido. Ele consegue ver, descrever e daquilo criar mais uma porta para as suas ancestrais histórias. Aquele seu parar de mãos nos bolso e pés tortos a olhar para o que ainda não consigo ver. Mas o que me irrita mais é tentar saber o que ele pensa e não conseguir.
Sou um bocado dele e do seu sangue. Sou um fruto dele e sei que quando era pequeno ele me abriu o coração e me colocou um pouco do seu olhar, para quando chegar à altura certa eu ver o que ele vê.
A sua frase que mais me toca e mais me intriga e ao mesmo tempo mais me deixa de um ignorante sorriso na cara…
“Todos temos o nosso dia marcado. Ninguém pode escapar ao chamamento. Até lá temos que cavar até nos doer as costas. E quando doer…iremos cavar ainda mais.”
Pessoa esta trilhada e consumida por tanta coisa que não diz cá para fora…mas ao mesmo tempo só a nossa troca de silêncios faz-me tremer a minha pequena bomba de sangue e faz me arrepiar até ao mais pequeno pelo do corpo.
Não há longos discursos no seu diálogo e não existe a palavra desistência no seu vocabulário. Tenho tanta coisa às vezes para lhe dizer e para lhe contar, mas em vinte e um anos (in) felizmente nunca lhe conseguir dizer nada. Ao mesmo tempo ele nunca me fez pergunta alguma sobre a minha Vida. Mas quando dou mais um passo em frente na minha Vida ele é o primeiro a largar um tijolo e  um corrimão para se eu tiver quase a cair me puder agarrar.
Gostava que ele vise o que eu vejo. Mas ao mesmo tempo sinto por vezes atrás da minha orelha esquerda um toque dele simplesmente a dizer:
“Eu estou aqui a ver-te não te preocupes”


As suas idas e voltas na minha Vida já foram acostumadas pelos meus olhos à quatorze anos. Mas quando estou com ele vêem-me sempre as lágrimas aos olhos de não lhe conseguir falar o que sinto, pois a sua presença é tão grande e importante para mim que me reduzo a migalhas e apenas fico sentado a observá-lo. Pessoa sempre com as palavras certas e no momento certo para as colocar. Nunca disse que o amava e tenho medo de ele um dia partir sem lho dizer. Gosto de o apreciar a fazer os seus afazeres e igualar os gestos e movimentos. Os seus feitos encorajam-me cada vez mais na vida e a um dia dizer-lhe o quanto o amo e o admiro.
Apenas uma vez na vida o ouvi dizer:
“Querido filho, estou muito fraco…”
Foi com esta frase que ganhei coragem e larguei umas lágrimas para escrever isto. Nunca o vejo com os meus olhos de vinte e um anos mas sim com um olhar de menino que parou no tempo. No tempo de 6 anos e sempre o esperou em casa para ele me vire babar e arrancar a orelha e sujar-me de tinta fresca das obras. Agarra em mim e levar-me aos fins-de-semana para a quinta e debaixo da chuva cavar o solo molhado e duro para plantar as batatas, macieiras e pessegueiros.
Sei que ele nunca vai ler isto mas as palavras escondem-se e entranham-se entre os meus dentes com a sua presença.
O amor que ele partilha com o resto da família tira-me o medo de ser o Homem da casa um dia. Seus trabalhos tiram-me o medo de um dia poder estar atrapalhado na vida. Aquele seu abraço seco e ao mesmo tempo quente passa-me sempre uma pequena mensagem de Amor.
No fim disto tudo torna-se a mais infantil criança quando brinca com a minha irmã de 10 anos. Só da vontade de dar-lhe dois murros na cabeça pois ainda consegue ser pior que ela.
Querido Pai…

Meu Baú de Memórias

De repente apoderou-se de mim uma espécie de nostalgia, tão forte esse sentimento, tão lindas as imagens que guardava em fotografias. Fotografias essas pregadas na minha cabeça como pequenas prateleiras cheias de pó de um quarto desarrumado mas não esquecido. Perdi-me neste dia em memórias que me conheciam de todo.
Óh Meu Baú de Memórias
Olhei para mim como se fosse o meu pequeno anjinho da guarda…
Saudades daquele menino negro de 5 anos, gordinho e engraçado. Rindo e piscando o olho a todas as mulheres que passavam. Saudades daqueles ovos “Kinder” que a minha querida mãe me dava, aqueles passeios no parque. Aquele Mundo que eu via e imaginava como se cada continente fosse na porta ao lado, cada praia e cultura fosse no quarteirão a seguir à minha casa. Aquele meu sorriso traquina atrás das saias da minha mãe e o meu olhar e sentimento de olhar para a rua e contar os carros azuis e vermelhos que passavam.
Bons tempos de me perder em construções avançadas de “Legos”, e viajar entre Heróis e Vilões. Tempos em que nem eu fazia ideia o que era um relógio, mas eram tempos em que gostava de ficar a olhar para baixo, do meu 11º andar, e ver a movimentação das pessoas e pensar o que é que elas estavam a pensar.
Nostalgias de um menino que imaginava a Terra verde e azul segurada pelas mãos de Deus e em que tudo girava nossa volta. Adormecer em todos os cantos em que parava: café, carro, escadas da rua…
Falar para mim e a mim próprio responder…
Aqueles finais de tarde à espera do meu Pai vir das obras cheio de tinta branca e bege ainda fresca e sujar-me as orelhas com as suas mordidelas e beijos…
Perdido em Livros com da Bíblia e Calvin and Hobbes quando ainda nem sequer sabia Ler mas aqueles Livros me aqueciam a minha inocente alma. Ir ao Bairro mais próximo pedir sempre os meus seis papessecos quentes e chorar sempre para a padeira para me dar mais um bem quente e com queijo para ir comer pelo caminho. Passar sempre pelos “cotas” da tasca fumando o belo do seu cigarro enquanto os céus discutiam as cores do final do dia e eu  harmonizava isto tudo com o meu assobio limpo e bem afinado
Chamavam-me o Menino Assobios….
Irritar a minha mãe com os paus da comida chinesa, com as minhas batucadas ainda um pouco fora do tempo mas já com solos, principio e fim. Gozar os meus dias com os outros meninos da rua, chamarem-me “vira-lata” e eu dizer “o cão ladra e a caravana passa!”.
Acordar às sete da manhã e viajar na minha varanda com um sol laranja incandescente puxado pela noite que passara.
Conseguir ir para a escola sozinho e cumprimentando todas as pessoas com sorrisos e “olás”…
Ir ao Supermercado pedir uma encomenda para a minha mãe e pedir sempre uma fatia de queijo do dia para ver se era melhor que a do dia anterior. Aqueles passinhos do Iúri pequenos e perdidos numas sapatilhas que o meu primo me dera. Aquelas minhas roupas largas que os meus amigos já não usavam e que eu amava pelo simples facto de serem deles. Os meus banhos sempre demorados com o meu pai e sempre à espera que me crescesse os pelos da barba para me sentir um homenzinho.
Os desabafos da minha mãe parra comigo enquanto me dava o sono e a baba me escorriam pelo canto da boca do cansaço do meu dia “agitado”…
As brincadeiras com os amigos da escola do “toca e foge”.

As minhas perguntas a Deus:
Será que Tu és branco ou preto como eu?
O meu cabelo rebelde mas sempre penteado à força nos domingos de missa.
As “batucadas” na barriga do meu avô Pacheco que Deus o tem em descanso, as brincadeiras com a avó Lucília atrás dos patos e a sabedoria do meu tio Tozé sobre a pintura e arte.
Ver o Mundo como se o Mal não existisse, através de uma chama de poucos anos de Vida e que sonhava ser um sonhador. Raízes duras no meu corpo e alma que me tornaram na pessoa que sou hoje e me fizeram neste dia de chá de Mel e Camomila, com 0º negativos, muita neve e uma música, perder-me em memórias de um pequeno trovador, cantando e balançando a sua cabecinha ainda mal formada mas já cheia de ideias e planos para o futuro. Planos de carreira, não de um bom trabalhador ou pai, mas sim uma pessoa que ajudasse e vive-se para ajudar os amigos, família e todos aqueles que aparecessem na minha vida.
As palavras da minha mãe, pai…
Os gestos da Natureza para comigo…
As coisas que via e não conseguia explicar…
As minhas memorias de uma cidade amarela e azul cyan…com arquitectura simples e que me empurrava para passear nela.
Faziam me acordar aos sábados de manha para ir à praça comprar amendoins e pistácios. Comprava um pão de dois dias, um pão já duro para dar aos patos que passeavam no lago do parque.
As tardes perdidas no café da D. Fernanda a ajudá-la a arrumar o café e a limpar a loiça.
As minhas terças e quintas ao final de tarde na piscina com o professor Vasconcelos a dizer:
Hey Iuuu….vamos nadar oh Tubarão!
Tantos risos inconscientes de um rapazinho que jurava a pés juntos que todo o Mundo era bom…De um Mundo que nunca na vida iria conspirar contra alguém…
Os meus desenhos em folhas de papel ajudados pela minha mãe e adormecer no colo do meu pai ao som do seu ressonar.
Os beijos na boca do meu cão “Max” e os meus desabafos com ele. Eu sabia que ele não me respondia, mas ao menos ouvia….
As minhas tentativas de fazer o pino ou a roda…falhei sempre mas a energia era tanta na minha alma que tinha que a depositar em alguma coisa. A minha viajem ao Algarve quando calhou um prémio de 100 contos à minha mãe no totoloto.
Que fortuna…
As minhas primeiras passadas na música com os ritmos básicos e tremidos com as mãos.
A minha infância vista de um rapaz agora crescido mas com sorrisos dos meus belos e velhos quadros arrumados no meu quarto cheio de pó. Um quarto que anda sempre comigo dentro da cabeça…
Um Baú desorganizado mas nunca esquecido.
As minhas memórias sem ouro e prata mas sentindo que era (e sou), o menino mais rico do mundo, onde na minha lancheira da escola levava uma sandes e uma mensagem de Paz e Amor.

Viajens a Chuva...

Hoje levanto-me. Ergo-me sobre grandes quedas de neve e frio. A gula e a preguiça fogem como se algo temessem. Meu corpo, grande e firme deita para fora um tremor e com ele fecho os olhos.
Eu canto…
Eu canto…
Eu Rezo…
Eu Falo…
Sobre prados verdes eu caminho como a ovelha à procura do seu pão de ervas. Caminho à vontade das palavras que por Deus me são segredadas ao ouvido. Da sua palavra não temo.
Venham prados verdes e seus frutos.
Venham aquelas cantigas que outrora foram cantadas e ditas no Livro das Profecias. No Livro em que os é segredado a todo o Mundo as Palavras do Leão.
O Livro em que os Salmos são cantados sobre cornetas e tambores. Onde ao serem cantados se abre os portões para um novo estado de Mente e de espaço. Um sítio em que as constelações mudam constantemente e onde corre um rio sobre campos e montanhas. Onde a Casa onde todos vivemos é coberta de flores e o Amor é prefeito. Um sítio onde a sabedoria das ervas e sementes é usada e passada para o nosso vizinho.

Vou à rua e dou uns passos. Tudo é cinzento mas nada me desagrada. Para uns uma paranóia, para outros nada, para mim Natureza e os seus feitos. Canteiros de água em forma de poças.
Água vinda dos céus?
Qual é o outro Universo em que existe tal maravilha?
Maravilha passada à insignificância para os cegos que só vêem o ouro e o titânio.
Água vinda dos céus?
Aqui a água é sugada e deitada fora. No deserto é sugada e chorada por mais.

O sol todo molhado e frio consegue subir a uma nuvem e dizer “Olá”. Infelizmente ninguém o ouve nem ninguém repara nele. Caras tristes e deprimentes. Mentes fechadas sobre o dinheiro e o tempo que passa. As correrias atrás de fumaças de veículos. O movimento da Urbanização sobre rodas e carris. O movimento sobre veios eléctricos e asas. Tanto movimento e pouca alma. Metal roubado das pedras. O plástico do seio da terra e petróleo.
Mais uma vez vou dando uns passos e tento passar-me despercebido do mundo que me rodeia. O mundo responde-me com duas chapadas de torrencial chuva e ar. Empurra-me para a margem de um rio e abre-me as pálpebras para ver a arca escondida no fim do arco-íris. A chuva molha-me de tal maneira que já nem me importo, pois tal maravilha é para ser contemplada.
As leis de Deus são por mim usadas e guardadas. São cuidadosamente dissolvidas num chá de espiritualismo e Meditação.
Que mais posso dizer?
Foi atirado fogo sobre as torres gémeas. Foi desencadeada a Guerra no Iraque. Foi exterminada noventa e cinco da raça indígena. Foi exterminado o pulmão da Amazónia. Foram escravizados os meus conterrâneos em África.
A Vida é real e o fogo quente. Fogo que no Livro das profecias promete cair sobre aqueles que seguem Leis humanas. Leis de competição e de corrupção.
Vejo o Sol de braços cruzados com as cores do céu. Cores do céu batalhando para ver qual delas permanece até ao fim.
Querem-me atirar para um Mundo de hienas e canibais. Querem cobrir o meu coiro com aço e pele de animal em forma de chicote. A única coisa que eu tenho que carregar às costas é a cruz que Deus me deu. Carregar o Sol que me foi dado nesta manhã.
O Sol que é gritado por mim e desenhado por órbitas celestiais de outros planetas e Luas.

Abro os olhos para a fúria, velocidade e caminho que me foi dado. Nada vou dizer pois quem diz nunca faz. Vou me calar e subir à árvore chamada Vida.
Não vale a pena lançar dados à vida pois ela já está escrita na nossa menina dos olhos. Escrita em forma circular como um ciclo que tem um princípio e um fim. Abro os portões sem sento-me à porta.
Eu canto…
Eu canto…
Eu Rezo…
Eu Falo…
Canteiros de águas que caiem dos céus, dignos de serem vistos, sentidos e não de serem ignorados ou escondidos. Digam às crianças de que precisam as árvores. Digam às crianças as Leis e a Verdade. Ofereçam a elas como a mim me foi oferecido um Livrinho de Desejos. Onde honestamente e conscientemente as nossas palavras, pensamentos, desejos e sonhos são colocados. Palavras que vão ser imortalizadas em carvão e papel, seram absorvidas pelo consciente e enviadas para um Universo próprio onde habita o âmbar e um banco. O âmbar será a pedra onde iremos trabalhar o Desejo e o Sonho, e o banco onde nos iremos sentar a contemplara nossa arte.
Viajei sobre raças poderosas e árvores infinitas de altura. Mas fui parar a um mato a arder. Nele entrei mas nele não me queimei. Soprei uma borboleta e o seu bater de asas apagou o fogo e criou uma nova paisagem onde cascatas caiam em poças rodeadas de colibris.
Foi me dada uma ordem de deus para olhar para os Céus e ver a arca onde todos estavam a salvo da tempestade causada pela desordem Humana. Uma menina loira e de olhos de tigre agarrou num pincel e molhou-o num pigmento castanho e pintou no espaço umas escadas para eu subir. Não pensei duas vezes….
Ao som de uma melódica contemplei a segurança daquela arca.
A frase do porão dizia tudo…

O Amor é a coisa mais principal da Vida…
A direcção da Arca era indefinida…mas nela estava a salvo. Luz, prosperidade e sabedoria dos aniões era os nossos ensinamentos. Sobre colinas e montanhas passamos e no nosso rasto pétalas de Coroas Imperiais eram largadas.


Quando meti o chá à boca tudo isto se resumiu a uma gota de água que caíra na minha testa e deslizou até ao meu nariz em forma de lágrima. Da janela do quarto apreciei o meu barquinho dentro de uma garrafa e a chuva que caíra sobre o vidro partido .